domingo, 15 de abril de 2012

Tai Chi Chuan e a Arte do Arco e Flecha


Aqueles que praticam Tai Chi Chuan aprendem bases (posturas e posições das pernas que geram força e equilíbrio) conhecidas por diversos nomes. Mas, em geral, fazemos referência à base do arqueiro. A base do arqueiro é a principal estrutura de pernas do estilo Yang. Recebe este nome por ser a postura que conferia aos antigos arqueiros chineses estabilidade e estrutura. 
Nas artes marciais chinesas é muito comum desenvolver a prática de armas, jogos de tabuleiro e leituras para expandir a compreensão sobre si e o universo que o rodeia. Neste contexto, muitos mestres de Tai Chi praticavam o arco e flecha como um complemento ou como um caminho paralelo de entendimento do Yin e do Yang. Lembrando que Tai Chi significa equilíbrio entre os opostos-complementares (yin-yang). Provavelmente, Sun Lutang foi o mais famoso mestre de Tai Chi que também se dedicava ao caminho do arco.

 No âmbito filosófico podemos destacar como grandes praticantes: Confúcio, Lie Zi, Sun Zi, entre outros. No ocidente esta prática se propagou pela versão japonesa deste caminho. Pouco é conhecido sobre a arte da arqueria como caminho. Na China Rituais antigos que datam desde Confúcio possuem grande relevância social e espiritual. Inicialmente, no Japão, os samurais utilizavam o arco e posteriormente passaram para a espada. A prática do Arco e flecha envolve: disciplina, método, força, relaxamento, concentração, determinação, paciência, aperfeiçoamento, desapego do ego, meditação, etc. Ou seja, os mesmos princípios de outras artes orientais. O mais importante é transformação interna (o mesmo que buscamos no Tai Chi Chuan, na Yoga, na meditação, etc.).

 Em uma obra profunda conhecida como Arte cavalheiresca do Arqueiro Zen, do filósofo alemão Herrigel, encontramos um sabedoria que transcende diferença entre China e Japão, pois já tomou o caminho do TAO.

"Dia após dia, eu ia penetrando com maior facilidade na interpretação e na prática da Doutrina Magna do tiro com arco e a executava sem esforço, como se o estivesse praticando durante um sonho. Confirmavam-se, assim, as palavras do mestre. Contudo, eu não conseguia me concentrar além do momento do disparo.
Manter a atenção num máximo de tensão não só me fatigava, ocasionando um relaxamento da própria tensão, como se desvanecia, perdendo sua energia potencial até tornar-se insuportável e, em muitas ocasiões, obrigando-me a dirigir minha atenção, provocando eu mesmo o disparo.
- Deixe de pensar no disparo!, exclamava o mestre.
- Assim não há como evitar o fracasso!
- Eu não consigo evitar, repliquei. -A tensão é insuportavelmente dolorosa.
- Isso acontece porque o senhor não está realmente desprendido de si mesmo. Contudo, é tão simples... Uma simples folha de bambu pode ensiná-lo. Com o peso da neve ela vai se inclinando aos poucos, até que de repente a neve escorrega e cai, sem que a folha tenha se movido. Como ela, permaneça na maior tensão até que o disparo caia: quando a tensão está no máximo, o tiro tem que cair..."